27 maio 2011

O começo

Bom, esse blog tem por objetivo fazer relatos, observações, impressões sobre a pesquisa que desenvolvo sobre relatórios institucionais. A criação dele, foi uma dica do professor André Porto Ancona Lopez, que possui vários blogs e ministra a aula de Metodologia de Pesquisa, que assisto como aluno especial no Programa de Ciência da Informação da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB). Para saber mais sobre os blogs dele, clique aqui.

Inicialmente, acho que devo dizer como cheguei a tal pesquisa. Bom, fui estagiário da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional entre 2004 e 2006, lá trabalhei com várias coleções pessoais, geralmente cartas, fazendo a descrição delas numa planilha própria, e por meio de um resumo indicativo e outros dados indicar seu assunto e ou temática. Após isso esses dados serem inseridos numa base. Nesse sentido, trabalhei com a Coleção Lima Barreto, Martins Pena e outras, mas a que foi mais especial foi a do jornalista Ernesto Senna, explico: nas outras coleções sempre trabalhei junto com a minha supervisora, Angela Di Stasio, mas nessa tive a oportunidade de trabalhar sozinho, de descrever a coleção em sua totalidade, ou seja, 1404 itens - aliás, nos Anais da Biblioteca Nacional é possível encontrar o inventário da Coleção com uma pequena apresentação minha, para acessá-lo, basta ir no link: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais_124_2004.pdf



Mas voltando, enquanto tratava essa coleção, fui percebendo que os documentos apresentavam algumas particularidades, algumas marcas, como rasgões, restos de cola, cortes, como se tivessem sido retirados de algum lugar, e também uma numeração escrita pelo jornalista na parte superior do documentos, o que indicava alguma ordem. Logo, cogitei que pudessem fazer parte de álbum, pois já sabia, através de pequena biografia, que o jornalista também era colecionador. Porém, sem a prova de que os documentos, originalmente estavam arrolados em álbum ou álbuns tive que deixar a dúvida no ar...

Porém, numa manhã, parece que o acaso me favoreceu, e enquanto voltava do cantinho do café, vi uma servidora, amiga minha, a Taíza, folheando um grande volume encadernado. Ao questioná-la sobre o que era aquilo, ela me falou que era o livro de tombo de Manuscritos. Fui observá-lo e logo um nome me chamou atenção: "Ernesto Senna" - tão breve exclamei: "Ih, essa é a minha coleção!" (sim em Manuscritos tínhamos o costume de tomar posse da coleção, logo a Ernesto era minha, a Tobias era da Eliza e assim por diante...). Lembro que no momento que vi, corri meu dedo na página vendo os dados que se sucediam em linha, tais como data de entrada, vendedor, valor etc, até que cheguei a uma anotação em caneta esferográfica, provavelmente da década de 50 ou 60 com a seguinte inscrição "É a Col. Ernesto Senna, desdobrada agora em pastas". Fiquei atônito, estava ali a prova que precisava, por ordem do "destino" havia conseguido solucionar meu problema!

Dessa investigação, por meio de pistas, rastros e restos, reconstruí parte da história da coleção no meu Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), cujo tema foi Colecionismo, ou seja, a arte ou mania de colecionar (no meu outro blog vocês podem conferir um post sobre bem aqui) tendo como objeto a Coleção do jornalista Ernesto Senna e a trajetória da Coleção na Biblioteca Nacional, posicionando a biblioteca também como uma colecionadora. Desenvolvido o trabalho, tive a grata recompensa de poder publicá-lo na íntegra nos Anais da Biblioteca Nacional, volume 128 (publicado em fevereiro dessa ano, e por isso, ainda não disponível na web).

Depois dessa pequena longa história, chego onde queria, como cheguei aos relatórios? Refletindo sobre como aquela pequena frase mudou o curso da minha pesquisa e me deu material suficiente para ela, comecei a chamar alguns registros do conhecimento de relatos de memória - não sei se é inédito esse nome, mas nunca li nada sobre - assim, apresentei no VIII Encontro Nacional de Obras Raras, o trabalho Registro de Memória: muito além do inventário, onde descrevo o processo de busca da história das coleções de uma biblioteca, por meio de registros de cunho administrativos, criados pela instituição, tais como livros de tombo, inventários, cadastro de doações e... Relatórios!

Uma professora minha, Simone Weitzel, que ministrou Formação e Desenvolvimento de Coleções, sempre falou, registrem o que você fazem, pois assim no futuro, saberão porque tal atitude foi tomada, ao invés de outra.

E assim, surgiu minha pesquisa, de outra pesquisa... De uma "solução" surgiu outro problema, que me inquietou, logo, como verão nos próximos posts, o que pretendo é analisar se os relatórios institucionais, são portadores da memória da instituição.

PS: desculpe a falta de imagem no post, mas todas dependem de autorização de uso, e não quero um processo!