15 dezembro 2011

Passei! =]

Ontem fiquei sabendo que passei na seleção do mestrado!

E agora??? Agora tenho que me planejar, afinal 2 anos passam voando!!!

=D

29 setembro 2011

Desejo de Memória e Desejo de Esquecimento

Ontem assisti na aula de Memória e Informação o filme "Uma cidade sem passado" (Das Schreckliche Mädchen).


Sua protagonista chama-se Sônia. Ela, de uma tradicional família católica alemã, sempre viveu no meio religioso, tendo estudado em um colégio para meninas onde seu pai lecionara e sua mãe havia lecionado, onde também, seu tio era padre.

A personagem tem sua vida transformada quando, como ganhadora de um concurso literário do governo alemão é apresentada aos temas do novo concurso, optando pelo "Minha cidade durante o III Reich". Curiosa, Sônia decide pesquisar sobre, mas esbarra em aspectos burocráticos e referentes a propriedade privada etc, que não permitem que ela sequer comece a sua pesquisa, tendo no máximo vestígios sombrios da época.

A relação que ela busca estabelecer é de como sua cidade manteve-se neutra durante a II Guerra, e como ali os judeus não foram "caçados". Porém, seu tempo esgota-se e ela tem que desistir de sua pesquisa...

Entretanto, alguns anos depois, mesmo casada e com filhos, Sônia retoma essa ideia e volta a pesquisar o tema, porém, as mesmas barreiras de antes surgem, contudo ela não desiste e passa a lutar contra todos para ter acesso ao arquivo que possibilitará a sua pesquisa. O arquivo pessoal do prefeito à época do III Reich.

Contudo, é importante esclarecer que quando falo todos, digo que Sônia passa a enfrentar a Igreja, pois seus membros tem envolvimento direto com o passado que ela busca revelar, a família, pois seu marido e seus pais opõem-se a tal pesquisa, além do Estado, que muda leis, cria empecilhos e acaba por não permitir o acesso ao arquivo que ela tanto ambiciona.

Sob tais aspectos o filme é fabuloso, ao mostrar a evolução de Sônia, de uma menina de cabelos longos e ar inocente até a mulher decidida, que casa-se com o professor, tem os cabelos curtos e ousa nadar totalmente nua, na minha visão, a maior expressão de sua libertação.

Se Sônia é figura em evolução, por outro lado, temos o Arquivo, instituição engessada, sujeita à vontades políticas e a mandos e desmandos, servindo ao Estado e à Igreja na tentativa de proteger a população da cidade das revelações que aquele arquivo poderia trazer. Assim, temos imagens jogadas sob o fundo verde (chroma key) do interior de arquivos, talvez representando que ele está ali, mas não pode ser acessado. O Arquivo inclusive, mesmo com a vitória de Sônia nos tribunais, a impede de usá-lo porque, segundo eles, os documentos foram perdidos, ou estão emprestados, ou estão em péssimo estado, ou... ou...

Com o desenrolar do filme e contando com a "sorte", como ela mesma diz, Sônia consegue consultar o arquivo que deseja e finalmente pode revelar à cidade os fatos (repare que não falo em verdade, mas sim em fatos, pois são coisas distintas).

Assim, Sônia consegue lançar seu livro onde revela os fatos de acordo com as informações colhidas no acervo do ex-prefeito, porém, sua batalha fora longa e recheada de ameaças, pois muitos dos envolvidos no caso ainda estavam vivos, sendo inclusive agredida e quase morta. Tal fato me faz lembrar a discussão sobre a abertura dos arquivos da ditadura pelo governo brasileiro, assunto de post no meu blog, clique aqui e aqui. Onde a situação de ter envolvidos vivos parece ser preponderante na discussão, o agravante é o fato de eles ainda atuarem politicamente, bem como no filme...

Bom, já em se final, o filme nos reserva cena chave, onde Sônia recusa-se a aceitar que um busto seu, feito para homenageá-la, fosse exposto na prefeitura, chocando a todos que acompanharam a pesquisa da jovem, afinal, o que é maior do que ter a sua imagem lançada a eternidade? Mais uma vez, a personagem revela-se sensacional, pois ao quererem engessá-la, como fizeram com o Arquivo, ela se nega, pois, na minha visão, ela não queria ser um lugar de memória, na noção passada por Pierre Nora, mas sim, apenas, uma pesquisadora, uma historiadora em busca de fatos e não de verdades, pois se ela fosse engessada pelo busto, nada mais teria a fazer, senão viver dessas glórias, desse monumento...

O filme é sensacional, entretanto, é a sua personagem principal quem mais me chama a atenção, pois Sônia é o retrato da evolução, do questionamento. A menina religiosa e de cabelos longos, casa-se com o professor bem mais velho, tem filhos e lhe dá nomes judeus, volta a estudar, porém é nomeada doutora por diversas universidades sem ter concluído a faculdade, graças ao livro resultado de sua pesquisa. Separa-se em prol de sua pesquisa, torna-se fumante e por fim, aparece sua imagem nadando nua, numa espécie de libertação de costumes, de construção de um novo eu a partir de novas memórias, de novas identidades.

Sônia, assim, seria o retrato do pesquisador, descontente com "as verdades", questionador por natureza... E mesmo depois de tantas transformações, o desfecho do filme se dá no local mais sagrado e emblemático da cidade, a árvore onde preces são depositadas e onde Sônia sempre buscou força nos momentos difíceis, talvez por ali ser um resquício da época do III Reich, uma testemunha muda da história, portador das memórias daquele povo...

21 setembro 2011

Preservar para não repetir?

Li duas matérias bem interessantes sobre a mesma temática: preservar ou não as construções Nazistas?

Os link são:

Hitler's Atlantic Wall: Should France preserve it?

Uma montanha bávara à sombra de Adolf Hitler

Acredito que o debate deva acontecer, principalmente pela sombra nazista assolar até hoje a sociedade. Porém, creio que, como diz o Projeto do Arquivo Nacional - Memórias Reveladas, devemos preservar ou contar "Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça". Assim, a preservação de lugares de trauma também é uma forma de manter presente a história que não queremos lembrar, mas que é imprescindível na construção da sociedade, do social.

22 agosto 2011

Coleção de Memórias

Alguém já se deu conta de que quase toda biblioteca tem uma coleção de referência, uma coleção de periódicos, uma coleção de obras raras e por aí vai? Mas se eu te dissesse que toda biblioteca deveria ter uma Coleção de Memória você saberia me dizer o que isso significa?

Bom, na minha visão, uma Coleção de Memória seria a coleção que arrola toda a documentação referente à história da biblioteca - nela estarão os antigos livros de tombo, catálogos, cadastros de usuários, controles de empréstimo e devolução, inventários e, claro, relatórios.

Nas Coleções de Memória a biblioteca coleciona a si mesma, para que sua história possa ser recontada, até mesmo quando ela não mais existir. Quer um exemplo? Darei dois...

Quando estagiava na Divisão de Manuscritos, dois importantes itens das Coleções de Memória de outras duas bibliotecas eram consultados. Explico: a Biblioteca Fluminense e a Biblioteca do Conde da Barca, foram duas das diversas bibliotecas incorporadas pela Biblioteca Nacional - afinal, como citei no meu Trabalho de Conclusão de Curso, as bibliotecas são colecionadoras, inclusive de outras bibliotecas - bom, os catálogos dessas duas antigas bibliotecas eram bastante procurados por pesquisadores, com as mais diversas finalidades, desde saber a procedência real de um livro, até recriar a história de tais coleções. Ou seja, os pesquisadores buscavam a memória dessas bibliotecas.

Então, ao manter preservados tais itens, quer dizer, ao criar uma Coleção de Memória, a biblioteca busca, como toda vez que colecionamos algo, se perpetuar através de tais registros ou relatos de memória.

Assim, nosso projeto acaba por investigar um dos aspectos de perpetuação da memória da biblioteca, que é a confecção de relatórios, mas nada nos impediria de trabalhar também com listas de inventários, livros de tombo, correspondências enviadas e recebidas etc, afinal diversos são os meios de perpetuação da memória.

Obs.: Achei que essa seria uma forma legal de explicar com o que eu trabalho no projeto e como pode ser importante manter tais registros.

02 agosto 2011

Coleção Ernesto Senna: A Construção de Uma Memória

Como tinha falado anteriormente, meu Trabalho de Conclusão de Curso tinha sido publicado nos Anais da Biblioteca Nacional, volume 128. Agora, apresento a vocês a versão digital que está no site da Biblioteca Nacional, basta clicar aqui.


25 julho 2011

A ciência na política*

Objetivando construir uma reflexão sobre a ação política no projeto de pesquisa que tenho construído discutirei alguns pontos nas próximas linhas, tendo como ponto de partida a reflexão de Nogueira (apud TOMANIK, 2009, p. 91), de que

[...] as ciências humanas [...] ainda que tenham por objeto real ou sensível os indivíduos humanos, com seu substrato orgânico, têm por objetivo formal certos fenômenos engendrados pela convivência humana e pela capacidade especificamente humana de simbolização.

Podemos chegar à conclusão, a partir de tal trecho de que a memória é uma representação social criada pelo homem, ou seja, um conjunto de símbolos, tradições, representações etc. Podemos perceber isso mais claramente ao pensarmos que a maneira mais comum de tornar a memória presente é erguer um monumento, pois dessa forma criamos um símbolo para sempre lembrar. Contudo, a maneira de se guardar, preservar e se lembrar de uma memória não acontece de forma tão inocente. Porém, antes, é melhor entendermos o que é memória.

Desde os Gregos, segundo Vernant (1973), o fenômeno memoralista faz parte do cotidiano, tanto que existia uma Deusa da Memória, Mnemosyne, cuja função era “revelar o que foi e o que será” (VERNANT, 1973, p.79). Nesse sentido a “[...] rememoração não procura situar os acontecimentos num quadro temporal, mas, atingir o fundo do ser, descobrir o original, a realidade primordial da qual saiu o cosmo e que permite compreender o devir em seu conjunto” (idem, p. 76-77). Assim, “O ‘passado’ é parte integrante do cosmo; explorá-lo é descobrir o que se dissimula nas profundezas do ser. A História que canta Mnemosyne é um deciframento do invisível, uma geografia do sobrenatural”.

O que nos leva a definição de Pomian (2000, p. 508), de que

A ‘memória’ é, em suma, o que permite a um ser vivo remontar no tempo, relacionar-se, sempre mantendo-se no presente com o passado [... Pois] entre o presente e o passado interpõem-se sinais e vestígios mediante os quais – e só deste modo – se pode compreender o passado; trata-se de recordações, imagens relíquias.

Dada tais definições e tendo em vista que a vertente mais explícita de nosso projeto é a Memória, não podemos achar que ela não se constitui numa decisão política. Pois ela, a memória, geralmente, representa o grupo dominante, ou vencedor, no caso de batalhas. Não por acaso, geralmente a história contada pelos “perdedores” ou por setores marginalizados pela sociedade só são acessíveis diante de atitudes individuais de preservação e não por atitudes do Estado e suas instituições.

Não é a toa que numa guerra o apagamento da memória do perdedor será sumário, não é leviano o fato de o exército brasileiro ter confiscado os documentos do Arquivo Nacional do Paraguai durante a Guerra, no século XIX. Não é a toa que os Estados Unidos bombardearam a Biblioteca Nacional do Iraque, em Bagdá, nada mais do que com o intuito de apagar, não deixar rastros para a reconstrução, ou se essa for possível, que seja incompleta.

E o mais curioso nessa relação de lembrar/esquecer é que por serem os arquivos, museus, bibliotecas e monumentos os locais de celebração e preservação da memória – “lugares de memória”, de acordo com Nora (1993) –, essas são as instituições que mais sofrem com a censura e destruição. Não foi por acaso que a Biblioteca de Alexandria foi destruída e reconstruída sucessivas vezes.

Observando com ainda mais atenção o escopo do nosso projeto, podemos verificar que a escolha do período englobado pelos Relatórios Institucionais da Biblioteca Nacional, a ser analisado – entre 1905 e 1914 – não foi por acaso, afinal, eu, enquanto pesquisador e influenciado pelo meu meio social, os escolhi.

Além do mais, ao verificar que tal período pode refletir, através da Biblioteca e de suas políticas de formação e desenvolvimento de sua coleção, o ideário dos dirigentes da instituição e do país de criar uma imagem de cultura e de urbanização do Brasil diante das outras nações, para tanto, um novo prédio foi projetado e construído. Com arquitetura magnífica e compondo um dos cenários mais significativos da paisagem carioca, tal edifício foi construído na recém inaugurada Avenida Central – projeto de Pereira Passos de urbanização e higienização da cidade, baseada em aspectos da arquitetura Parisiense – e em conjunto com o Theatro Municipal, a Câmara Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes e o Centro Cultural da Justiça federal forma a tão famosa Cinelândia. Logo, o ideal de cultura e erudição reflete os aspectos de civilidade que os dirigentes desejavam que o mundo enxergasse no Brasil.

Assim, ter uma Biblioteca Nacional, cuja missão é preservar a memória do país, e que efetivamente cumprisse tal papel e tivesse um acervo raro e valioso é importante para que tal ideal se cumpra. Por consequência, enriquecê-lo é um dos meios para se alcançar tal objetivo e, por que não, preservar a memória dos 'escolhidos'. Atrevo-me a dizer que, na minha experiência na Biblioteca Nacional, cheguei à conclusão de que seu acervo é republicano e abolicionista. Mas basta um olhar mais atento para verificar que suas coleções mais importantes são incorporadas num momento de afirmação da república brasileira, onde a todo custo tentam fortalecê-la, diante da ainda ameaça dos monarquistas, no final do século XIX e início do século XX.

Nessa acepção, Halbwachs (2006) nos fala que a memória, apesar de individual, constitui-se num reflexo do coletivo, logo a memória é uma construção coletiva de grupos, sejam eles dominantes ou não, porém a memória que existe para a história oficial, será quase que invariavelmente, a dos grupos dominantes.
E mais, a biblioteca, sendo um local de pesquisa, e ao refletir tal interesse, só poderá oferecer ao seu público, obras, documentos, imagens que reflitam esse ideal e assim, provavelmente, os relatos e pesquisas que teremos serão nada mais do que confirmações do desejo dominante, desta forma, se a política não dita o que um projeto irá pesquisar, ela pode ditar ao que ele terá acesso e como terá acesso.

Sob esse prisma, basta entendermos que uma biblioteca é constituída de políticas, sejam elas de seleção, de acesso, de descarte, enfim que ela tem normas consagradas em sua prática de gestão que dirão a que público ela se direciona, o que ele encontrará ali e como ela poderá usufruir dos produtos e serviços oferecidos. Tais normas, regulamentos ou, simplesmente, políticas, constituem-se em ações baseadas no interesse e missão dos mais diversos segmentos sociais.

Logo, se missão de uma biblioteca nacional é salvaguardar a memória daquele país para que ela possa, de forma poética, ecoar no tempo futuro, para que se conheça o como foi, entenda o como é e, talvez, sirva de projeção para o como será, nada mais coerente do que se guarde o desejo de memória do governante ou do dominante. Assim, a memória será sempre fruto da tensão entre o lembrar e o esquecer, fruto das disputas pelo poder e pela afirmação do poder vigente. Não fosse assim, talvez não seria possível a reconstrução do passado de forma tão próxima ao que aconteceu, mas nunca de forma ampla, refletindo apenas o geral, o que foi mais representativo nos meios sociais.

REFERÊNCIAS

HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva e memória. In: ______. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. p. 26-70.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Proj. História, São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez, 1993.

POMIAN, K. Memória. In: GIL, Fernando (coord.). Sistemática. Porto: Imprensa Nacional: Casa da Moeda: 2000. p. 508. (Enciclopédia Einaudi, 42)

TOMANIK, Eduardo Augusto. O que é ciência?: a ciência no discurso do cientista. In: _____. O olhar no espelho. Maringá: EDUEM, 2004. p. 55-114.

VERNANT, Jean-Pierre. Aspectos míticos da memória e do tempo. In: _____. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. São Paulo: Difusão Européia do Livro; EDUSP, 1973. p. 71-97.

* Esse post é o opinion paper apresentado como trabalho final na parte da disciplina Metodologia de Pesquisa em Ciência da Informação ministrada pela professor André Ancona.

20 julho 2011

Biblioteconomia, 100 anos

Semana passada a criação do primeiro curso de Biblioteconomia no Brasil fez 100 anos.

Veja a postagem que fiz no Poeira de Biblioteca: http://poeirab.blogspot.com/2011/07/100-anos-de-biblioteconomia-no-brasil.html

Criação e não efetivo funcionamento, OK? Por isso meu projeto vai até 1915!

Pausa, revisão!

Bom, encerrada a disciplina Metodologia de Pesquisa é hora de fazer um apanhado geral sobre o meu projeto a partir da disciplina.

Ele, na comparação com o que era e o que se tornou não sofreu grandes mudanças, os objetivos ficaram os mesmos porém de forma mais clara, tendo em vista que faz parte da produção do conhecimento se fazer entender da melhor forma possível. Ainda nesse sentido, foi feita a mudança no título do projeto (aliás, ele é o título do Blog). Outra mudança foi o encurtamento do período a ser pesquisado, passando de 20 anos para 11, tendo como marcos teóricos o lançamento da Pedra Fundamental do novo prédio da Biblioteca (1905) e o efetivo funcionamento do curso de Biblioteconomia (1915) - sim, são onze anos, pois trabalho com o relatório de 1905, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15, logo...

Porém, talvez a mudança mais significativa esteja nas entrelinhas do projeto, de entendê-lo melhor. Assim, o projeto teve sua parte escrita aperfeiçoada, se fazendo mais claro e preciso.

 Também entendê-lo como fruto do meu social, dos meus desejos e, sobretudo, perceber que um projeto sempre terá no seu escopo o seu pesquisador, me permitiu ficar mais a vontade com algumas idéias que tenho, que mesmo que não entrem no projeto diretamente, podem ser úteis para melhor executá-lo.

Assim, ter a visão da dimensão política do projeto me ajudou a buscar melhores formas de fazê-lo e comunicá-lo aos meus pares, aliás, função essa que esse blog que vos "fala" tem - a troca de informações, as críticas, as interações.


Assim, essa pequeno relato não visa esclarecer mais sobre o projeto, mas sim, fazer um balanço sobre como estamos e como prosseguiremos. E agora percebo que o que fiz foi um relatório... =]

21 junho 2011

Arquivo Institucional ou Coleção?

Lendo um post no Blog de Diplomática do professor André Ancona (link aqui), achei uma tarefa proposta no qual ele pede que se discuta, entre outras questões, as diferenças entre Arquivo Pessoal e Coleção, achei interessante dar uma adaptada à questão e discutir a diferença entre Arquivo Institucional e Coleção.

No meu primeiro post aqui (O Começo) falei que no meu Trabalho de Conclusão de Curso investiguei as práticas colecionistas, analisando-as tendo como objeto a Coleção Ernesto Senna. Pois bem, tendo diversas definições do que seria Coleção, podemos dizer que num panorama geral, colecionar é formar um agrupamento lógico (ao menos para o colecionador) de objetos que lhe são caros sentimentalmente e que tem ligação estreita com a sua memória, pois ao mesmo tempo os objetos são itens de coleção, eles são "máquinas do tempo" no sentido de trazerem à tona recordações.

Dessa forma temos as definições de Pomian (1997, p. 53), de que Coleção é “[...] qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público”.

Já para Benjamin (2006, p. 239) “Colecionar é uma forma de recordação prática de todas as manifestações profanas da ‘proximidade’, a mais resumida”.

E por fim temos Baudrillard  (1989, p. 94) que diz que o "[...] objeto puro, privado de função ou abstraído de seu uso, toma um estatuto estritamente subjetivo: torna-se objeto de coleção. Cessa de ser tapete, mesa, bússola ou bibelô para se tornar ‘objeto’. Um belo ‘objeto’ dirá o colecionador e não uma bela estatueta".

Nesse sentido, os objetos de coleção são o meio de recordação do passado, sem sair do presente, remetendo o colecionador à uma "constelação histórica criada por ele próprio, revelando conexões entre coisas que guardam correspondência” (PERRONE; ENGELMAN, 2005, p. 86).

Tá, se já sabemos o que é Coleção, cabe ressaltar que na Coleção Ernesto Senna, eu tinha um misto de Arquivo Pessoal e Coleção no sentido de que ele incorporou à segunda documentos sobre sua vida, sua atividade como jornalista e correspondências pessoal, ouso dizer que ele colecionou suas relações pessoais, materializadas pelas cartas, cartões, dedicatórias e autógrafos (no sentido de assinaturas) que conseguia. Porém, ao incorporar-se à Coleção, como na fala de Baudrillard, perde sua função primeira e torna-se um objeto de Coleção.

No contexto das bibliotecas, Coleção diz respeito ao acervo, e geralmente é usado para denominá-lo. No trabalho, posiciono a biblioteca como uma colecionadora, mas o assunto, no momento não nos importa.

Dito isso, vamos nos ater agora ao que seria um Arquivo Institucional (observando que ainda não temos tantas definições como no caso das Coleções, tendo em vista que o primeiro é um trabalho concluído e o segundo é um trabalho em fase de desenvolvimento).

O Arquivo Institucional, seria, na minha visão, o resultado as práticas de gerência e administração das instituições. É formado, bem como os acervos pessoais, de documentos, relatos, obras que dizem respeito à instituição e à sua história. São, documentos oficiais e extraoficiais que são acumulados ao longo dos anos, tendo como seus autores os representantes da instituição naquele momento, ou seja, seus funcionários.

No caso do Arquivo Institucional da Biblioteca Nacional, temos uma contradição, pois na Biblioteca o Arquivo Institucional é chamado de Coleção Biblioteca Nacional, talvez por ser o termo Coleção mais caro (ou menos estranho) às bibliotecas do que o termo Arquivo. Assim, a Coleção Biblioteca Nacional, entendida como o Arquivo Institucional da Biblioteca, arrola comunicados internos, registros de usuários, livros de tombo, relatórios, matérias veiculadas na imprensa sobre a instituição e, por mais insólito que pareça, alguns objetos tridimensionais, como a pá usada no lançamento da pedra fundamental do novo prédio ou a bala de revólver que atingiu o gabinete da presidência durante na década de 1990, durante uma perseguição na rua México, que fica atrás da Biblioteca, acompanhado desta está uma reportagem,  se não me engano do Jornal do Brasil, sobre o fato. Questionáveis ou não, tal prática contribuí, ao que parece, para que a história da instituição seja preservada.

Assim, talvez, a diferença entre Arquivos Institucionais e Coleção não possa ser tão aparente, talvez o objetivo da sua construção seja o maior diferencial, pois a Coleção envolve o gosto pessoal, sem se importar com as consequências disso, que pode ser ou não a preservação da memória do colecionador ou até mesmo do seu meio social, porém tal fator, na maioria das vezes, é secundário. Já um Arquivo Institucional, parece ter sido criado com o objetivo de preservar a memória da instituição, para que no futuro sua história possa ser recontada, assim, a instituição é contada pela própria instituição e seus representantes (funcionários, servidores, estagiários, colaboradores etc).

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Referências:

BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1989. p. 93-114.

BENJAMIN, Walter. O colecionador. In: ______. Passagens. Belo Horizonte: Editora da UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. p. 237-246.

PERRONE, Cláudia Maria; ENGELMAN, Selda. O colecionador de memórias. Episteme, Porto Alegre, n. 20, jan./jun. 2005. Disponível em: <link>. Acesso em: 20 dez. 2008.

POMIAN, Krzstof. Coleção. In: GIL, Fernando (org.). Memória-História. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1997. p. 51-86. (
Enciclopédia Einaudi, v. 1).

E a informação?

Tá, tudo muito legal, tudo caminhando, mas se a idéia é o desenvolvimento de um projeto na área de Gestão da Informação, onde a tal falada informação está no meu projeto? Afinal, eu só falei basicamente de memória até o momento...

Nesse sentido, entendo que a informação está presente no projeto em alguns aspectos, são eles:

-Os relatórios nada mais são do que a compilação de informações sobre as ações da Biblioteca Nacional num determinado período de tempo, arrolando informações relativas ao seu acervo, número de consultas, número de usuários etc. Eles são confeccionados para que a Biblioteca mostre ao Ministério à qual está subordinada, suas ações e provavelmente foi publicado como um meio de legitimação de seu conteúdo e também no sentido de prestar contas à população. Logo, podemos entender que os relatórios são um meio de prática comucicacional das informações institucionais;


- A idéia de preservação da informação, pois a construção de uma série documental de relatórios institucionais pode presumir que os mesmos serão consultados no futuro e podem servir de base para tomada de decisões ou entender porque algumas decisões foram tomadas. Assim, as informações ou dados ali registrados poderão ser úteis num momento futuro, tendo a idéia de que se eu registro, eu preservo como norteadora. Assim, tais dados estariam assegurados por algum tempo no percurso da história da sociedade.

17 junho 2011

Ainda sobre o "por quê?"

Talvez também seja interessante refletir sobre a idéia de Peter Burke, no livro "Uma história social do conhecimento: de Gutemberg a Diderot", que nos fala, ao discutir as bibliotecas da antiguidade, o seguinte:

Bibliotecas que sobreviveram nos permitem estudar a “arqueologia do conhecimento” no sentido literal da famosa expressão de Foucaut, examinando os vestígios físicos de antigos sistemas de classificação. Os catálogos das bibliotecas públicas e privadas, e a organização das bibliografias (que eram apresentadas na forma de bibliotecas imaginárias, usando muitas vezes os títulos Bibliotheca), seguiam frequentemente a mesma ordem, com poucas permutações e modificações. (p.88)



Seguindo tal idéia, o resultado poderá ser uma espécie de “arqueologia das bibliotecas”, onde através de relatos institucionais, podem ser resgatados fatos da história e memória institucional, pois a idéia de revirar a o Arquivo Institucional em busca de informações sobre a história da instituição, nos remete à figura tradicional do arqueólogo escavando os restos de civilizações, em busca de fragmentos que possam reconstruir, ao menos, uma parte daquela.

15 junho 2011

Por quê?

Creio que a pergunta mais difícil ao se fazer um projeto de pesquisa é por que fazê-lo? Penso que pela perguntar envolver questões pessoais e científicas é muito difícil respondê-la, mas tentarei.

Bom, inicialmente preciso esclarecer que penso mais ou menos como Tanno (2007), no seu artigo "Os Acervos Pessoais: Memória e Identidade na produção e guarda dos registros de si" no qual ela diz que estudar a micro história ajuda a desvelar a macro história. Sendo assim, estudar as instituições, pode ajudar a entender melhor a história do país. No meu caso, entendo que pesquisar sobre a história da Biblioteca Nacional, através de seu acervo, ajuda a entender o contexto social e político da época adotado na instituição.

Desta forma, acredito que investigar o modo de construção da Coleção da Biblioteca Nacional evidenciará o intuito de modernização do país, onde a cultura (ter uma Biblioteca Nacional valiosa parece primordial) e a civilidade (urbanização da então Capital Federal, o Rio de Janeiro, tendo como expoente máximo a Avenida Central, atual Rio Branco - coincidência ou não, local onde o novo prédio da Biblioteca foi construído) servem de marco para tal comparação. Ainda mais se observarmos que essa foi uma época de profundas transformações na estrutura administrativa da Biblioteca, e reorganização do seu acervo acervo num novo prédio, além da criação do primeiro curso de Biblioteconomia da América Latina.

Nesse contexto, de resgate, a acepção de memória dada por Pomian norteia o trabalho, pois para ele

A ‘memória’ é, em suma, o que permite a um ser vivo remontar no tempo, relacionar-se, sempre mantendo-se no presente com o passado [... Pois] entre o presente e o passado interpõem-se sinais e vestígios mediante os quais – e só deste modo – se pode compreender o passado; trata-se de recordações, imagens, relíquias.” #1.

Aliada à essa idéia temos a de Ginzburg, que diz que

Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la” #2.

Sendo assim, entendo os relatórios como recordações da gerência e administração institucional, mal ou bem comparando-os aos diários pessoais, onde podemos encontrar fatos da vida das pessoas e nos permitem inclusive reconstruir a sua vida, fazer a sua biografia.

Assim, a idéia do que seja a Memória Institucional oferecida por Thiesen nos é bastante cara, pois para ela

A memória institucional [...] Na perspectiva do tempo, seria o retorno reelaborado de tudo aquilo que contabilizamos na história como conquistas legados, acontecimentos, mas também vicissitudes, servidões, escuridão” #3.

Em suma, a Memória Institucional seria o resgate da trajetória - entendida aqui como percurso - da instituição na sociedade e em si mesma, pois além de ser construída por aspirações da sociedade, a instituição parece ser construída de dentro para fora também, a partir de seus funcionários e gestores.

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#1 POMIAN, K. Memória. In: GIL, Fernando (coord.). Sistemática. Porto: Imprensa Nacional: Casa da Moeda: 2000. p. 508. (Enciclopédia Einaudi, 42)
 
#2 GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 177.

#3 COSTA, Icléia Thiesen Magalhães. Memória institucional: a construção conceitual numa abordagem teórico - metodológica. 1997. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - CNPq/IBICT-UFRJ/ECO, Rio de Janeiro. Orientadora: Maria Nélida González de Gómez.

08 junho 2011

Arquivo da Biblioteca Nacional

Olha que matéria legal encontrei no site da Revista de História da Biblioteca Nacional:

"Biblioteca Nacional
A instituição a partir de seus próprios arquivos
Renato Venâncio*

No ano em que se comemora o segundo centenário da Biblioteca Nacional (BN), cabe lembrar o pioneirismo dessa instituição, patrimônio de todos brasileiros, na democratização de acervos bibliográficos e documentais on-line.

A BN foi uma das primeiras instituições culturais brasileiras a disponibilizar bancos de dados e imagens digitalizadas na internet. Essas iniciativas podem ser visualizadas na página da Biblioteca Sem Fronteiras da BN. Obras raras, jornais, fotografias, mapas, manuscritos, partituras musicais formam parte do acervo digital, acessível a qualquer cidadão do Brasil ou do restante do mundo.

Nesse universo digital, gostaria de destacar a disponibilização dos Anais da Biblioteca Nacional, referente ao período de 1876-1997. Para acessar esse periódico, basta clicar o cursor no item “Coleções” e depois clicar em “anais”, instalando em seguida o plugin localizado à direita da lista dos volumes.

Nos Anais da Biblioteca Nacional, os mais variados aspectos da vida cultural brasileira, do século XVI aos nossos dias, foram registrados. Além de reproduzir valiosos documentos, esse periódico disponibiliza extraordinários instrumentos de pesquisa, na forma de catálogos de livros ou repertórios de documentos.

Os Anais também contam a história da Biblioteca Nacional. Infelizmente, o plugin não permite o estabelecimento de hiperlinks. Eis, porém, duas dicas de pesquisa. A primeira delas diz respeito à busca através da palavra “relatório”. A consulta aos relatórios do século XIX, reproduzidos nos Anais, revela o papel da Biblioteca Nacional na modernização da leitura: os livros de teologia eram os menos consultados, em proveito da literatura e das ciências exatas. Outra pesquisa com resultados interessantes é através da palavra “bibliotecário”. Vários documentos e estudos são indicados. No vol. 12, por exemplo, é possível ler a biografia de Camillo de Monserrate, bibliotecário da BN entre 1853 e 1870.

Enfim, além de ser um repositório da história do Brasil, os Anais da Biblioteca Nacional contam o passado da própria instituição."

O link para matéria é esse: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/biblioteca-nacional

* Renato Venâncio possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica - RJ (1982), mestrado pela Universidade de São Paulo (1988), doutorado pela Universidade de Paris IV - Sorbonne (1993) e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (2005). É professor na Universidade Federal de Minas Gerais, assim como Pesquisador do CNPq. Entre 2004-2008 foi Consultor Científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Entre 2005 e 2008 dirigiu o Arquivo Público Mineiro, também atuando como Editor da Revista do Arquivo Público Mineiro. Entre 2007-2008 foi Consultor Científico da UNESCO, no Comitê Nacional Memória do Mundo. Entre 2006-2008 foi membro da Seção Brasileira da Comissão Luso-Brasileira para Salvaguarda e Divulgação do Patrimônio Documental - COLUSO-Conarq/Arquivo Nacional. Foi, ainda, responsável pela coordenação da implantação do Sistema Integrado de Acesso do Arquivo Público Mineiro (SIA-APM).
(Fonte: Currículo Lattes)

07 junho 2011

Problema e Objetivos

Conforme foi dito no último post, minha pesquisa surgiu de uma "solução", ao encontrar o relato que precisava para reconstruir a história da Coleção Ernesto Senna dentro da Biblioteca Nacional, também encontrei um problema. E tal problema acabou se tornando o meu objeto de pesquisa, pois tendo em mãos, durante a reconstrução da história da Coleção, relatórios, livros de tombo, inventários antigos etc, pude observar como alguns relatos de gestão biblioteconômica, herdados de práticas administrativas, podem se constituir em importante fonte sobre o passado de uma biblioteca ou instituição.

Assim, elejo como objeto de pesquisa os relatórios institucionais, por se constituírem numa "Descrição minuciosa e circunstanciada dos fatos de uma gerencia de administração pública ou de sociedade" (AULETE), ou seja, são os relatos de gestão. Dessa forma, chego a seguinte problemática: "Podem os relatos de memória, tais como os relatórios institucionais, servirem de meio para recontar a história institucional?".

Nesse sentido, busco analisar se as informações registradas nos relatórios servem de meio para reconstrução da memória de uma instituição, utilizando como objeto de estudos os Relatórios da Biblioteca Nacional, publicados durante certo período nos Anais da Biblioteca Nacional, e hoje, publicados no site da instituição.

Mas como analisar se há memória nos relatórios? Afinal, memória não é algo intangível? Que não pode ser tocado? Pois é, mas para poder analisar se os relatórios são portadores da memória institucional parto dos seguintes objetivos:

- Analisar como como os relatórios institucionais - auxiliados por outros relatos institucionais - podem servir de meio para recontar a história da Biblioteca Nacional;

- Analisar, através de tal registro informacional, como se deu a Formação e o Desenvolvimento de sua Coleção.

Norteado por um objetivo maior, que é:

- Analisar se o conteúdos dos relatórios institucionais é uma fonte para a construção da memória institucional.


Tendo esclarecido isso, espero encontrar, no percurso da pesquisa, dados que me levem à reconstruir como a biblioteca se desenvolveu e foi ampliando sua coleção ao longo dos anos. Para tanto, determino como marcos históricos os relatórios compreendidos entre 1905 e 1915, já que o primeiro descreve o lançamento da pedra fundamental do novo prédio da Biblioteca, na então Avenida Central, atual Rio Branco, e o segundo o efetivo funcionamento do curso de Biblioteconomia na instituição em 1915, pois a autorização para a fundação do mesmo foi dada em 1911.

27 maio 2011

O começo

Bom, esse blog tem por objetivo fazer relatos, observações, impressões sobre a pesquisa que desenvolvo sobre relatórios institucionais. A criação dele, foi uma dica do professor André Porto Ancona Lopez, que possui vários blogs e ministra a aula de Metodologia de Pesquisa, que assisto como aluno especial no Programa de Ciência da Informação da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB). Para saber mais sobre os blogs dele, clique aqui.

Inicialmente, acho que devo dizer como cheguei a tal pesquisa. Bom, fui estagiário da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional entre 2004 e 2006, lá trabalhei com várias coleções pessoais, geralmente cartas, fazendo a descrição delas numa planilha própria, e por meio de um resumo indicativo e outros dados indicar seu assunto e ou temática. Após isso esses dados serem inseridos numa base. Nesse sentido, trabalhei com a Coleção Lima Barreto, Martins Pena e outras, mas a que foi mais especial foi a do jornalista Ernesto Senna, explico: nas outras coleções sempre trabalhei junto com a minha supervisora, Angela Di Stasio, mas nessa tive a oportunidade de trabalhar sozinho, de descrever a coleção em sua totalidade, ou seja, 1404 itens - aliás, nos Anais da Biblioteca Nacional é possível encontrar o inventário da Coleção com uma pequena apresentação minha, para acessá-lo, basta ir no link: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais_124_2004.pdf



Mas voltando, enquanto tratava essa coleção, fui percebendo que os documentos apresentavam algumas particularidades, algumas marcas, como rasgões, restos de cola, cortes, como se tivessem sido retirados de algum lugar, e também uma numeração escrita pelo jornalista na parte superior do documentos, o que indicava alguma ordem. Logo, cogitei que pudessem fazer parte de álbum, pois já sabia, através de pequena biografia, que o jornalista também era colecionador. Porém, sem a prova de que os documentos, originalmente estavam arrolados em álbum ou álbuns tive que deixar a dúvida no ar...

Porém, numa manhã, parece que o acaso me favoreceu, e enquanto voltava do cantinho do café, vi uma servidora, amiga minha, a Taíza, folheando um grande volume encadernado. Ao questioná-la sobre o que era aquilo, ela me falou que era o livro de tombo de Manuscritos. Fui observá-lo e logo um nome me chamou atenção: "Ernesto Senna" - tão breve exclamei: "Ih, essa é a minha coleção!" (sim em Manuscritos tínhamos o costume de tomar posse da coleção, logo a Ernesto era minha, a Tobias era da Eliza e assim por diante...). Lembro que no momento que vi, corri meu dedo na página vendo os dados que se sucediam em linha, tais como data de entrada, vendedor, valor etc, até que cheguei a uma anotação em caneta esferográfica, provavelmente da década de 50 ou 60 com a seguinte inscrição "É a Col. Ernesto Senna, desdobrada agora em pastas". Fiquei atônito, estava ali a prova que precisava, por ordem do "destino" havia conseguido solucionar meu problema!

Dessa investigação, por meio de pistas, rastros e restos, reconstruí parte da história da coleção no meu Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), cujo tema foi Colecionismo, ou seja, a arte ou mania de colecionar (no meu outro blog vocês podem conferir um post sobre bem aqui) tendo como objeto a Coleção do jornalista Ernesto Senna e a trajetória da Coleção na Biblioteca Nacional, posicionando a biblioteca também como uma colecionadora. Desenvolvido o trabalho, tive a grata recompensa de poder publicá-lo na íntegra nos Anais da Biblioteca Nacional, volume 128 (publicado em fevereiro dessa ano, e por isso, ainda não disponível na web).

Depois dessa pequena longa história, chego onde queria, como cheguei aos relatórios? Refletindo sobre como aquela pequena frase mudou o curso da minha pesquisa e me deu material suficiente para ela, comecei a chamar alguns registros do conhecimento de relatos de memória - não sei se é inédito esse nome, mas nunca li nada sobre - assim, apresentei no VIII Encontro Nacional de Obras Raras, o trabalho Registro de Memória: muito além do inventário, onde descrevo o processo de busca da história das coleções de uma biblioteca, por meio de registros de cunho administrativos, criados pela instituição, tais como livros de tombo, inventários, cadastro de doações e... Relatórios!

Uma professora minha, Simone Weitzel, que ministrou Formação e Desenvolvimento de Coleções, sempre falou, registrem o que você fazem, pois assim no futuro, saberão porque tal atitude foi tomada, ao invés de outra.

E assim, surgiu minha pesquisa, de outra pesquisa... De uma "solução" surgiu outro problema, que me inquietou, logo, como verão nos próximos posts, o que pretendo é analisar se os relatórios institucionais, são portadores da memória da instituição.

PS: desculpe a falta de imagem no post, mas todas dependem de autorização de uso, e não quero um processo!