15 junho 2011

Por quê?

Creio que a pergunta mais difícil ao se fazer um projeto de pesquisa é por que fazê-lo? Penso que pela perguntar envolver questões pessoais e científicas é muito difícil respondê-la, mas tentarei.

Bom, inicialmente preciso esclarecer que penso mais ou menos como Tanno (2007), no seu artigo "Os Acervos Pessoais: Memória e Identidade na produção e guarda dos registros de si" no qual ela diz que estudar a micro história ajuda a desvelar a macro história. Sendo assim, estudar as instituições, pode ajudar a entender melhor a história do país. No meu caso, entendo que pesquisar sobre a história da Biblioteca Nacional, através de seu acervo, ajuda a entender o contexto social e político da época adotado na instituição.

Desta forma, acredito que investigar o modo de construção da Coleção da Biblioteca Nacional evidenciará o intuito de modernização do país, onde a cultura (ter uma Biblioteca Nacional valiosa parece primordial) e a civilidade (urbanização da então Capital Federal, o Rio de Janeiro, tendo como expoente máximo a Avenida Central, atual Rio Branco - coincidência ou não, local onde o novo prédio da Biblioteca foi construído) servem de marco para tal comparação. Ainda mais se observarmos que essa foi uma época de profundas transformações na estrutura administrativa da Biblioteca, e reorganização do seu acervo acervo num novo prédio, além da criação do primeiro curso de Biblioteconomia da América Latina.

Nesse contexto, de resgate, a acepção de memória dada por Pomian norteia o trabalho, pois para ele

A ‘memória’ é, em suma, o que permite a um ser vivo remontar no tempo, relacionar-se, sempre mantendo-se no presente com o passado [... Pois] entre o presente e o passado interpõem-se sinais e vestígios mediante os quais – e só deste modo – se pode compreender o passado; trata-se de recordações, imagens, relíquias.” #1.

Aliada à essa idéia temos a de Ginzburg, que diz que

Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la” #2.

Sendo assim, entendo os relatórios como recordações da gerência e administração institucional, mal ou bem comparando-os aos diários pessoais, onde podemos encontrar fatos da vida das pessoas e nos permitem inclusive reconstruir a sua vida, fazer a sua biografia.

Assim, a idéia do que seja a Memória Institucional oferecida por Thiesen nos é bastante cara, pois para ela

A memória institucional [...] Na perspectiva do tempo, seria o retorno reelaborado de tudo aquilo que contabilizamos na história como conquistas legados, acontecimentos, mas também vicissitudes, servidões, escuridão” #3.

Em suma, a Memória Institucional seria o resgate da trajetória - entendida aqui como percurso - da instituição na sociedade e em si mesma, pois além de ser construída por aspirações da sociedade, a instituição parece ser construída de dentro para fora também, a partir de seus funcionários e gestores.

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#1 POMIAN, K. Memória. In: GIL, Fernando (coord.). Sistemática. Porto: Imprensa Nacional: Casa da Moeda: 2000. p. 508. (Enciclopédia Einaudi, 42)
 
#2 GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 177.

#3 COSTA, Icléia Thiesen Magalhães. Memória institucional: a construção conceitual numa abordagem teórico - metodológica. 1997. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - CNPq/IBICT-UFRJ/ECO, Rio de Janeiro. Orientadora: Maria Nélida González de Gómez.

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